sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Diante dos olhos

O Museu Oscar Niemeyer, um dos pontos turísticos mais aclamados entre os visitantes de diversas localidades e os próprios curitibanos, está perdendo o brilho irretocável. Parece manchete sensacionalista de pasquim popularesco. Porém, nada mais é do que a fria e racional constatação de fatos reais.

Explico: a rotina diária de visitação do 'Museu do Olho' não é, tão somente, formada por turistas e suas máquinas fotográficas - os quais, no fim das contas, são apenas números que preenchem as estatísticas governistas.

Noite no museu
O museu, invariavelmente, é, também, ponto de freqüentação noturna de vários grupos urbanos; um espaço democrático. À noite - e pelas longas horas da madrugada que se seguem -, alguns se reúnem para uma simples conversa, regada a risos e goles. Outros, se aventuram em praticar esportes (sim, à noite!) no gramado - um verdadeiro campo minado por cocôs dos cãezinhos que ali se infestam aos domingos. Há quem ainda apele para narcóticos e derivados alucinógenos proibidos. Sem contar os pares de namorados que... Enfim, os namorados também se divertem no museu.

Ironia. Enquanto de dia, a modernidade e a aparente organização se mostram quase supremas, à noite a realidade se distancia - e muito - da aprazível Curitiba. E revela uma paisagem típica dos grandes centros: jovens em busca de diversão - lícita ou ilícita -, que se movimentam contrários às implícitas leis de ordem e civilidade. É a juventude que se mostra oposta à hipócrita fantasia de "cidade modelo".

Mendigos
Muitos dos freqüentadores da noite do museu, porém, não estão ali por diversão ou pelo prazer do rompimento das imposições éticas e morais. Talvez estejam por falta de opção ou por necessidade extrema e irremediável. São os moradores de rua.

Não, o tal do brilho irretocável do museu do olho não é ofuscado pelos mendigos à deriva. Na verdade, esses são mais alguns dos tantos personagens comuns às metrópoles cosmopolitas; são resultado do movimento ininterrupto do progresso.

Agressão
Ignorância, autoridade, falta de senso e violência é o que torna as noites no MON opacas. Diante do 'olho do museu'. Diante dos olhos de todos.

"Os SEGURANÇAS DO MUSEU OSCAR NIEMEYER também usam de violência contra mendigos que procuram abrigo p/ dormir. Foi o que aconteceu no sábado, 20/10/2007. Às 07:50hs, tive o desprazer de ver o pobre do mendigo chorando de frio, pois tinha sido acordado por baldes de ÁGUA FRIA JOGADO EM SEU CORPO POR TRÊS SEGURANÇAS DO MUSEU".

A seqüência narrada por uma moradora do bairro, que, revoltada, se manifestou em uma das tantas comunidades do orkut, não é caso isolado. E também não se trata de mera observação impressionada. É a realidade. Brutamontes se deleitam em abusar da autoridade conferida para ofender os freqüentadores do museu. Preferencialmente, os mais indefesos.

A agressão - moral ou física - é, sobretudo, aferida a grupos de minorias mais frágeis: homossexuais, mendigos, mulheres. Pouco é feito contra os jovens rapazes usuários de drogas, por exemplo. Razão aparente: a condição social dos garotos das classes média-alta curitibana.

Progresso
O ritmo imposto pela evolução da sociedade é, de fato, frenético. E inúmeras são as conseqüências do progresso. Curitiba é palco do desenvolvimento acelerado. Mas nada disso justifica a violência que denigre imagens cânones e assusta os cidadãos. Ainda mais contra vítimas desarmadas do crescimento urbano.

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