sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Literatura Paranaense e o Catatau de Paulo Leminski

Concordo em gênero, número e grau com a cara colega Luana, Paulo Leminski é um ícone da cidade. Aliás, qual é a identidade literária de Curitiba? Tivemos poetas tão rechonchudos como insignificantes, por exemplo, Emílio de Menezes. A quem encontrar uma obra dele, onde quer que seja, dou um geladinho de limão. Bom, não é?
O texto está saindo assim, saído, porque fiquei sabendo que era para torná-lo alternativo, dando-lhe adornos mais arejados.
Voltando à identidade cultural de Curitiba, apenas dois autores daqui figuram em pé de igualdade com o que há de melhor no País: Dalton Trevisan e Cristovão Tezza.
Conheço o Cristovão e tudo, não pessoalmente a ponto de ele saber meu nome, mas porque vi duas palestras dele. Coloco-o na reduzidíssima lista, pois, a mídia vem falando bem de seu último livro, no qual traz à tona a angústia de pai de um deficiente físico. O que já li dele, porém, não me entusiasmou tanto, 'O Trapo', com o perdão do trocadilho, é feito dos mesmos farrapos que o título sugere.
Dalton Trevisan, por outro lado, é inquestionavelmente o grande autor da cidade. Narra o que poucos vêem, ou o que todos vêem e não narram. Como era o Rio de Janeiro de João Antônio, dos pobres desdentados, dos sujos, bêbados, tarados, assassinos, e dos cruéis. Quem não se lembra da história da reportagem que o Valdir fez sobre ele? Trevisan deve ter sido um dos poucos escritores locais a ter os textos traduzidos em outras línguas. E por que será isso?
Pode ser por não usar o rapapé que tanto critica, empregado pelos '10 mil imortais da Academia Paranaense de Letras', diria ele.
Mas para explicar o sucesso de Dalton é preciso recorrer à frase batida do escritor russo Liev Tolstói "Canta sua vila e será universal", e assim ele é.
Gostaria de deixar pano para as mangas. Quem sabe alguém pode me refutar. Aliás, conheço mais gente que não gosta da literatura do sr. Trevisan do que o contrário.
Encerrando, lá vai um excerto do livro Catatau de Paulo Leminiski, um curitibano tranqüilo, que computou entre suas amizidades Caetano Veloso, Alceu Valença, Haroldo Campos, Pedro Xisto, entre outros. O livro é um extensíssimo paragráfo único de 269 páginas. No léxico do autor está o latim, holandês antigo e várias outras línguas. É para não dizerem que não tivemos (paranaenses) um Guimarães Rosa, né? Transcrevo à guisa do livro.

"O Triunfo dos Trouxas. A Quarta Fachada. A Jurisdição dos Brutamontes. A Ferrosimilhança dos Destalhes. O Percurso das Calamitates. Impulso para a queda. O engraçado mora longe. Atalhou a modo de exemplo: adonde?"

6 comentários:

Vítor Costa disse...

Olá, companheiro!
Li seu post. Muito bom, porém creio que o escritor Cristóvão Tezza não é nascido aqui. Ele pode até ter vindo muito cedo para nossas terras, mas pelo pouco que sei ele é catarinense. Só não sei de qual província.
That´s it
Abraço

Anônimo disse...

Pois é, tenhos minhas dúvidas sobre isso também. Mas se for enveredar por esse caminho, nem o Dalton Trevisan entra na história da literatura curitibana, porque é nascido em Almirante Tamandaré.

Anônimo disse...

Pois é, se você partir para naturalidade do autor, devemos tirar da literatura curitibana até Dalton Trevisan, porque ele nsaceu em Almirante Tamandaré.

Felipe Vanini disse...

Olá, Victor!
Por esse prisma, se falarmos de Dalton Trevisan estaremos falando da literatura, em dimensões municipais, de Almirante Tamandaré, pois é lá que ele nasceu. Acho que o Tezza vive há muitos anos por aqui, não que influa em nada, mas o parâmetro de discussão foi autores locais. Até acho que ele é menos referencial no que se trata de Curitiba, do que Trevisan. But then again, what were we talking about?

Anna Azevedo disse...

Caro colega Felipe.

Devo dizer que, entre todos, este foi o texto que, particularmente, mais me chamou a atenção. Pertinente e interessante.

Aliás, é sempre pertinente e interessante falar de Trevisan e de Leminski. Principalmente quando se que quer - ao menos tentar - produzir algo alternativo sobre a cidade, seja em que esfera artística for (pra quem não sabe, Leminski, por exemplo, além de ser um exímio poeta e autor de belíssimos textos em prosa, também experimentou a arte dos hai-kais e fez inúmeras composições musicais).

Tentar observar a cidade sob o mesmo prisma óptico que os "nossos ilustres curitibocas" é enxergar uma cidade diferente da Curitiba convencional que nos habituamos a ver. É fugir do clichê, das mesmices propostas. É ser - de fato - alternativo.

Vamo lá, galera, que isso tá ficando bom!

Abraços a todos.

Curitiba Alternativa disse...

Ok Felipe, apenas assinalo que o novo livro do Tezza é de sua relação com o filho autista. E é interessante, de fato, como o escritor nascido em Lajes/SC assumuiu Curitiba a ponto de preocupar-se em sua literatura com diversos olhares sobre a capital. Caberia, como exercício (de caminhada e observação), refazer trajetórias de seus personagens pela cidade, tirar fotos e eventualmente comentar aqui. O que certamente vale para outros escritos e escritores, até para os de Almirante...rs O problema é ir e não voltar para contar a história, já dizia alguém a um sábio jornalista.