domingo, 2 de setembro de 2007

Histórias de “bonde”

- Sério! Mas eu falei com ele e pelo jeito vai rolar...
huahuahuahuahuahua
E o negócio lá da firma deu certo? Puxa, que bom, mas não esquenta a cabeça que com aquelas paradas é susse... hahahahaha

Quinta-feira, 22h15, saída antecipada da faculdade, o ônibus não estava tão lotado. Uma voz feminina narrava a conversa acima, que dava para ser ouvida de qualquer lugar no ônibus. Uns três quilômetros de percurso e a conversa continuava:

- Não, não sei o que vou fazer ainda não, mas a gente vai se falando...
huahuahuahuahuahua

E com tantas gargalhadas e conversas chamando a atenção, talvez não pudesse deixar de acontecer. Um rapaz que estava logo atrás começou a imitá-la com as gargalhadas. Depois participou da conversa como se fosse com ele que ela estava falando. Pronto! O espetáculo estava montado. Todos no ônibus começaram a olhar para os dois. Por alguns momentos o rapaz se conteve de vergonha, mas a moça que estava falando no celular era como se nem tivesse percebido que estavam tirando sarro dela.

No destino final, cerca de cinco quilômetros de percurso, onde todos os passageiros devem desembarcar, houve algum temor:

- O rapaz, se a mulher vier tirar satisfação era você que tava zuando. Livra o meu!

E a conversa no celular continuou, talvez em um tom mais baixo, ou simplesmente foi confundida com a algazarra dos transeuntes do terminal. Todos se dispersaram, pois cada um foi para seu ponto de ônibus. A moça faladeira que não se importa em chamar a atenção e nem com as sátiras dos outros foi esquecida em meio a correria para não perder a hora. Talvez alguém se lembre do que ela fez algum dia, ou quem sabe, mesmo sendo tão chamativa, já tenha caído no esquecimento...

Um comentário:

Curitiba Alternativa disse...

boa captura de (certamente) um trecho do converseiro nesse espaço coletivo em que se travam conversações privadas. Interessante perceber como se negociam tais interações (assuntos, modos de fala, tom de voz, como se inicia e se fecha a conversa...) em trânsito. Sugestão de leitura: Janice Caiafa.